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Artistas Brasileiros de Hearthstone: Conheça Ursula Dorada

Confira uma entrevista com a artista brasileira Ursula Dorada

O design de Hearthstone e suas artes deixam o jogo mais amigável, chamativo e intuitivo, fazendo com que os jogadores criem vínculo afetivo, colecionando diversos itens com aquela arte estampada. 

Temos brasileiros muito talentosos na equipe de artistas que dão vida aos cards de Hearthstone e conversamos hoje com Ursula Dorada. Conhecida também por “Sulamoon”, ela tem 36 anos, é carioca, reside em Porto Alegre e trabalha como ilustradora há 16 anos. Confira nosso bate papo!

CnM: Como foi o começo da sua carreira?

Ursula:  Eu comecei a trabalhar com arte na época dos celulares, antes ainda de Smartphone, sabe aquele jogo da cobrinha? Então, as empresas de celular contratavam a gente para tirar o jogo de um celular e disponibilizar ele em outros. Depois disso eu passei para publicidade e fiquei lá por 10 anos e nesse tempo muita coisa mudou no mercado, entre arte digital, internet, contatos, muitas possibilidades foram abertas, então eu descobri que eu conseguiria trabalhar como freelancer para fora do Brasil. Teve um momento durante esses 10 anos que eu trabalhei para Ubisoft do Brasil e me deu aquele gostinho de “Nossa, eu poderia estar trabalhando com jogos!”. Com a evolução da internet e sabendo que as pessoas contratavam esse tipo de serviço, eu fui atrás de fazer portfólio para conseguir entrar na Blizzard, sabe como é jogador de World of Warcraft, né? Levou mais ou menos três anos até eu decidir que era aquilo que eu queria e conseguir o primeiro contato com eles.

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Lady Sylvanas and King Varian prints coming to CCXP this year <3

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CnM: Você é muito fã de World of Warcraft, como foi conseguir trabalhar para a empresa do seu jogo favorito?

Ursula: MMO é interessante porque é mais que um jogo, é uma comunidade, virava parte da identidade mesmo. E como uma boa jogadora hardcore, eu jogava de Bruxo! Tinha meus personagens, camiseta, tudo meu era pintado de roxo, roxo já era minha cor favorita. Quando eu decidi que realmente queria trabalhar para a Blizzard como artista levou um tempo estabelecendo um plano e aí vinha o problema de que é muito difícil te notarem na internet, lá você é sempre mais um. Eu juntei todos os membros da minha guilda e fiz cards de Hearthstone para cada um deles, montei um portfólio, juntei dinheiro e fui para a Blizzcon. Um colega de curso meu foi um dos ganhadores de um concurso de arte de Hearthstone e começou a trabalhar para eles e me apresentou para o diretor de arte e foi lá que eu consegui o feedback.

Ursula na BlizzCon 2019

CnM: E depois do feedback, como chegou no seu primeiro card?

Ursula: Ele olhou meu trabalho e falou que tinha um monte de coisas para consertar. Ele disse que uma das coisas que chamou a atenção dele foi que quando eu voltei para o Brasil, eu retoquei todo o meu trabalho fazendo as alterações que ele pediu e mandei de volta. Ele não respondeu a esse e-mail, foi uma semana intensa e de muito nervosismo. Quando ele me respondeu, já veio meu primeiro briefing de Hearthstone e o contrato para eu assinar.


CnM: E qual foi o primeiro card?

Ursula: Minha orc barda, a Trovadora Estridente. Desenhar meninas orcs era meu objetivo de vida e ter conseguido fazer isso foi muito legal.

CnM: E os próximos trabalhos?

Ursula: No começo é tudo bem devagar, eu fiz o primeiro card, entreguei e ele perguntou se eu queria mais uma e foi assim até que hoje já tem um calendário estabelecido, quando chega a data já chegam os cards para você fazer e eles já estão esperando que você entre na produção.


CnM: Como os briefings vêm para você? Você já sabe dos atributos do card (custo, ataque, vida) e efeito?

Ursula: Normalmente é uma descrição simples, tipo “Queremos um Goblin correndo com uma bomba na mão dentro de um laboratório destruído”, eles dão bastante liberdade para você trabalhar com os conceitos. Eu não tenho informação nenhuma da parte de gameplay, nem da classe. Durante o período de produção as coisas mudam muito, quando um card se torna específico de uma classe eles pedem uma alteração na paleta de cores.


CnM:  Vamos falar sobre o Iniciado Intrépido, card de Universidade de Scolomântia. Fiquei muito feliz de ver personagens negros em posições de estudantes, professores e pesquisadores. De onde veio a inspiração para esse card?

Ursula: Geralmente eles mandam só “Precisamos de um personagem humano”. Nesse card eles perguntaram se poderia ser negro e eu fiquei muito feliz porque a referência que eu usei para ele foi o Super Choque, que é um personagem incrível! O design dele é muito bom e  pensei “Como o Super Choque seria se fosse mago?” e trabalhei na minha versão.

E ficou todo mundo contente com o resultado do card. Eu fiquei muito feliz com a forma como o público recebeu, foi um feedback muito diferente do comum. Espero que eles deem essa liberdade para gente fazer mais.

CnM: Você já desenhou de tudo: orc, draenei, mecanoide, kobold, sátiro, humano… tem algo que você goste mais de desenhar ou você gosta dessa variedade?

Ursula: Para mim, o importante é ser roxo! Se você olhar os meus cards, é tudo roxo. Eu gosto muito da ideia do Kobold porque aquela expansão tinha a lore muito divertida e explorar isso foi muito massa! Mas eu ainda quero fazer um Goblin! Tá faltando.

CnM: Você postou recentemente no twitter a sketch da Flaustista do Bosque. Como é o processo criativo e quanto tempo leva do briefing enviado pela Blizzard até o resultado final?


Ursula: O tempo de produção que eles me dão são de 6 semanas. Eu levo mais ou menos uma semana para fazer um card. 

Sobre o processo criativo, a primeira coisa que a gente envia são os thumbnails, uma versão simplificada só para ter ideia de como trabalhar com composição e pose.

Depois de escolhida, eu começo a fazer o esboço oficial e decidir a armadura, iluminação, efeito especial – uma ideia mais sólida de como o card vai acontecer. 

Nesse card eu lembro de pedir para utilizar a armadura Paramentos da Tormenta, porque é roxo! 

A próxima etapa é o esboço de cor, ele parece o thumbnail, mas com uma outra proposta.

Escolhida a cor eu mando a primeira versão final, que teve uma alteração do formato da magia, eu cheguei a fazer 6 versões até chegar na arte final, que é a que todo mundo conhece.


CnM: Qual foi a arte que mais mexeu com você?

Ursula: A Flautista do Bosque sempre vai mexer muito comigo porque ela foi a primeira sátiro do sexo feminino para o universo de Warcraft e foi aí que eu comecei a entender que eu estava realmente trabalhando em Hearthstone. Se eu falasse para a Sula de 13 anos, que matava aula pra jogar Diablo na casa dos amigos, que ela ia trabalhar pra Blizzard ela diria que isso era absolutamente impossível. Esse card me faz olhar pra trás e falar “Deu certo! Que loucura!”


CnM: Você já teve algum bloqueio criativo? Como você lidou com isso?


Ursula: A grande vantagem de você trabalhar em estúdio é que você nunca está sozinho, então quando tem algum tipo de problema é só ir na mesa ao lado que o pessoal se junta e te ajuda, mas toda arte nunca é só sua, é sempre do estúdio. Isso me deixou um pouco sem o senso de que a arte era minha.

Quando eu pedi demissão e fiquei só como freelancer, bateu um pouco da responsabilidade de que o processo era todo meu, mas isso foi ok, o problema é que quando você trabalha como freelancer não tem mais um chefe para jogar a culpa das coisas que deram errado e eu sou uma chefe muito ruim! Teve um final de ano em particular que eu enfiei o pé na jaca e peguei muitos trabalhos em período de Comic Con. Não estava bom e depois que eu entreguei o trabalho eu simplesmente quebrei e fiquei quase 4 meses sem trabalhar, não conseguia desenhar, não conseguia levantar da cama, cheguei até a repensar a carreira de ilustradora e foi muito traumático. Com o tempo passou, voltei aos trilhos e tudo voltou a se encaixar.


Têm dois tipos de bloqueio artístico, o primeiro é quando o artista está frustrado e acha que não consegue desenhar bem e normalmente esse é o mais fácil de lidar, dá um passo para trás, volta para a zona de conforto, reganha a confiança e tenta de novo. Já o de pegar mais trabalho do que consegue fazer é mega vacilo, respeite pelo menos o seu final de semana. É muito fácil quando se é freelancer de que falar sim para tudo vai fazer mais dinheiro, não é um bom plano. Temos que cuidar do pulso, da coluna, da motivação, da sanidade. Um trabalho a mais agora não vai valer a pena pelo que eu vou sacrificar lá na frente.

CnM: Que mensagem você deixa para jovens artistas?


Ursula:  Leva tempo! Se você quer ficar bom daqui a 3 meses, você está criando uma expectativa que não dá pra cumprir e sempre que a expectativa está lá no alto acontece a frustração. Muito do processo de arte é aprender a gerenciar frustração. De não ter ficado bom o suficiente, de não ter tido tempo, de não ter equipamento… então tudo o que você puder fazer para diminuir isso vai te ajudar a ficar na corrida. 

Se vocês começarem a desenhar, a praticar, a fazer os exercícios e ir atrás da teoria agora, não é pra imaginar como você vai estar no final do mês ou ano que vem, imaginem o que vocês podem estar fazendo daqui a 5 anos, daí vocês vão conseguir focar em estudar, praticar, não ter medo de encarar os pontos fracos, quanto mais cedo você encarar, mais cedo isso vai melhorar. 

Desenhar tem que ser um hábito para você poder encarar os desafios que aprender desenho vai ter lá pra frente. Encare como escovar os dentes: é importante, faça, porque daqui a 10 anos você ainda quer ter os dentes. Se você não conseguiu escovar um dia, tudo bem, só volta a fazer no dia seguinte.

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Acompanhe a Ursula:

Portfolio: sulamoon.com

Galeria das artes da Ursula Dorada

 

 

Apaixonado pela Blizzard, jogo Hearthstone desde Montanha Rocha Negra e crio conteúdo do jogo na fanpage Taverna das Divas, além de ser streamer. Email: [email protected] Twitch: twitch.tv/eduquesa Twitter: @eduquesa_