Pessoas muito inteligentes estão jogando Hearthstone
Em seus quatro anos no mercado, Hearthstone provou ser um jogo muito popular ultrapassando a marca de 70 milhões de jogadores, seja em partidas casuais entre amigos ou em eventos profissionais de esports.
E de acordo com uma reportagem do PCGamer, as disputas do cardgame podem se tornar ainda mais elevadas com uma nova geração de jogadores que é composta por engenheiros do Google, estudantes de doutorado e gênios infantis.
O alemão Raphael “Bunnyhoppor” Peltzer é um desses jogadores que se destacou no Circuito Mundial de Hearthstone (HCT) no mês passado na Alemanha. Consagrado campeão no torneio, ele utilizou as classes Xamã, Mago e Bruxo na grande final, faturando US$ 60 mil e 30 HCT Points.
Com uma trajetória quase sem falhas em sua estreia e garantindo uma vaga no Campeonato Mundial do próximo ano, Peltzer tem apenas 26 anos e está na reta final de terminar seu Doutorado. Ele começou a jogar Hearthstone em seu tempo livre, como uma forma de aliviar o estresse.
E não estamos falando de um doutorado qualquer. “Eu simulo pequenas reações e pequenas moléculas biológicas em um computador. Essa é uma descrição ampla do que eu faço“, explica de seu escritório no Centro de Química Teórica e Computacional da Universidade de Oslo, Noruega, onde, em média, ele gasta oito horas por dia, 40 horas por semana.
“Foi no meu segundo ano do meu doutorado, quando comecei a levar o Hearthstone mais a sério e ganhei altos níveis. No sistema de torneio HCT, qualquer um pode se qualificar com base em quão bem eles estão na ladder. Eu pensei: ‘Por que não dar uma chance?’. Não apenas me qualifiquei, mas terminei no top 8 [na minha primeira competição]. Eu realmente comecei a curtir a cena de lá“, comentou.
Peltzer seria uma exceção neste cenário, se não houvesse tantas outras pessoas como ele no círculo profissional de Hearthstone, como é o caso do norte-americano Muzahidul “Muzzy” Islam da Tempo Storm, um estudante de desenvolvimento de jogos no Albright College, e amplamente considerado como o melhor jogador da América atualmente.
Victor “VLPS” Lopez, ex-jogador também da Tempo Storm, recentemente trocou sua carreira de competição de jogos para se concentrar no mercado de criptografia. Já William “Amnesiac” Barton é um estudante do ensino médio que também é considerado uma das mais inteligentes mentes analíticas de Hearthstone.
O norueguês Casper “Hunterace” Notto, de apenas 17 anos, se destacou na classificação dos pontos HCT na Europa nas últimas duas temporadas e já tem três grandes majors em seu currículo, tornando-se o primeiro jogador nível “Mestre” de Hearthstone no processo.
Outro exemplo é de David “Shoop” Steinberg, que se destacou na Dreamhack Austin no ano passado e ao mesmo tempo mantém uma carreira incrivelmente lucrativa no Google, onde trabalha com a qualidade dos dados do software de navegação da empresa.
Com tão pouco tempo para se dedicar ao jogo, Steinberg faz uma programação de acordo com o número de dias de férias em sua agenda e com sua carga de trabalho atual. Ele então se dedica na construção do seu deck, procurando por elementos específicos em decks de combinação e controle que tenham sido deixados de lado pela comunidade – uma maneira de compensar as horas de jogo que não possui em relação a outros jogadores.
Steinberg é questionado pela reportagem por que Hearthstone atrai mais acadêmicos, cientistas da computação e os teóricos moleculares do que outros jogos de esports? Ou por que não tentar a sorte em outros tipos de torneios, como pôker?
“Na engenharia ou na academia, você pode estar interessado em um problema técnico, mas descobre que não pode resolvê-lo sem preencher um pedido de subsídio ou realizar um estudo de um ano ou tirar algumas semanas para aprender os meandros de um novo tipo de modelo de aprendizado de máquina“, responde Steinberg.
“Em Hearthstone, se você quiser resolver problemas lógicos interessantes, tudo o que precisa fazer é fazer o login. Há prós e contras para essa facilidade de acesso, mas não me surpreende que os profissionais da STEM [sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática] estejam interessados em jogos de cartas – na verdade, estou surpreso que mais profissionais e semi-profissionais de Hearthstone não explorem carreiras em STEM. Acho que há muito potencial inexplorado por lá“, concluiu.